O antissemitismo é um fenômeno real. Judeus, a exemplo de outros grupos etnorreligiosos, são muitas vezes alvo de violência e julgamentos apressados motivados por preconceito. O assassinato de dois funcionários da embaixada israelense em Washington, nesta quinta-feira (22), é um exemplo concreto disso.
A existência de antissemitismo, porém, não pode servir para blindar judeus ou o Estado de Israel de críticas. O racismo não pode virar um passe livre para que suas vítimas ajam com irresponsabilidade.
E, a essa altura, é grande e crescente a lista dos crimes de guerra e contra a humanidade que as tropas israelenses cometem em Gaza. Ainda que Israel tenha amparo legal para ter ido à guerra contra o Hamas após o 7 de outubro (“jus ad bellum”), não há justificativa legal nem moral para a forma como se comporta em batalha (“jus in bello”).
Por maiores que tenham sido as atrocidades perpetradas pelo grupo terrorista, elas não autorizam o exército regular de um país que se pretende civilizado a bombardear pesadamente áreas com significativa presença de civis, provocando um morticínio, e muito menos a privar a população de víveres. Em pleno século 21, não dá para aceitar que comida seja usada como arma de guerra.
A imoralidade dessas ações está na extensão de sanções, inclusive a capital, a indivíduos que não participaram dos ataques terroristas. Seu único “crime” é pertencer ao grupo étnico “errado”. Ao desconsiderar os efeitos que as operações bélicas causam aos civis palestinos, políticos e militares israelenses tratam pessoas como meio e não como fim, uma violação ao imperativo categórico kantiano.
É algo semelhante ao que fez o assassino de Washington, que selecionou aleatoriamente dois indivíduos aos quais impôs sua vingança. O casal ainda tinha histórico de militância em favor do entendimento entre israelenses e palestinos.
Se o Deus abrâmico cultuado por judeus, cristãos e muçulmanos existe e zela pela distribuição de justiça divina, ou ele é sádico ou tem um parafuso a menos.
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