As lideranças de trabalhadores rurais negros de 16 países aumentaram a pressão sobre a presidência da COP30, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), por uma participação dos movimentos de quilombolas nas agendas de negociações do evento.
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Em carta entregue à presidência da conferência nesta quinta-feira (29), os representantes exigem uma participação ativa dos movimentos nas discussões sobre os temas climáticos e, além disso, 500 credenciais para COP30 e um espaço físico para os dias do evento, que acontece em novembro, em Belém.
No Brasil, os quilombolas dizem ter sido excluídos das discussões da COP30. Para ganhar volume na disputa por espaço, a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) se uniu a outros movimentos de trabalhadores rurais negros da América Latina.
Assim, foi criada a Citafro (Coalizão Internacional de Organizações para a Defesa, Conservação e Proteção dos Territórios, do Meio Ambiente, Uso da Terra e Mudança Climática dos Povos Afrodescendentes da América Latina e do Caribe).
Kátia Penha, coordenadora nacional da Conaq e representante do Brasil na Citafro, disse à Folha que não há solução climática sem os “cientistas da terra” e que retirá-los é tratar os afrodescendentes somente como “polo passivo” das discussões climáticas, e não como um “polo interventor”.
“Somos uma coalizão de 16 países, que é afrodescente de comunidades rurais, e estão nos ecossistemas os quilombolas, garífunas, os marrons, os palenques. Então, são povos étnicos que vivem no seu território e que precisam de ser titulados”, afirmou Penha.
A entrega do documento da Citafro ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, foi realizada no Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) e contou com a presença das ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Marina foi ovacionada pelo público, composto majoritariamente por militantes dos movimentos de afrodescendentes, ao chegar ao auditório. Em seu discurso, a titular da pasta do Meio Ambiente afirmou que a COP30 enfrenta um desafio interno para ser realizada no Brasil, e citou como exemplo a discussão que teve com senadores na comissão de Infraestrutura na última terça-feira (27).
“Temos uma ambiência interna igualmente desafiadora. O que aconteceu no Senado é um sintoma do desafio que nós temos”, afirmou Marina.
Os indígenas são um grupo que também pede mais inclusão nas discussões sobre temas climáticos. Eles exigem a copresidência da COP30, cuja proposta é inédita e permanece sem uma resposta da comissão da COP30. Ela é uma das pautas do G9 —grupo de coalizão de etnias dos nove países da amazônia, criado na COP16 da Biodiversidade, realizada em 2024, em Cali, na Colômbia.
O representante da Colômbia na Citafro, Absalon Suárez, afirmou à Folha haver uma expectativa de que os movimentos possam ser reconhecidos mais internacionalmente a partir da intensificação da agenda COP30.
“A presença de altos dirigentes é importante pois, afinal, nós conseguimos entregar o nosso manifesto com pontos essenciais dos povos afrodescendentes”, declarou Suárez.
O documento de posicionamento políticos da Citafro cita 11 pontos que deverão ser abordados em discussões na conferência. Entre eles, estão o reconhecimento dos afrodescendentes na amazônia, que concentra 32% dos quilombolas do país, de acordo com o Censo 2022.