O Festival de Cannes encerrou sua 78ª edição premiando “It Was Just an Accident”, ou “Un Simple Accident”, de Jafar Panahi, com a Palma de Ouro, neste sábado (24). O iraniano completa, assim, a tríade de prêmios dos três maiores festivais europeus, após vencer o Leão de Ouro em Veneza e o Urso de Ouro em Berlim.
Wagner Moura, de “O Agente Secreto”, se tornou o primeiro brasileiro a vencer o prêmio de melhor ator, e Kleber Mendonça Filho, o segundo a triunfar em direção, 56 anos após Glauber Rocha e seu “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”.
Entre as atrizes, Nadia Melliti foi escolhida por “The Little Sister”. “Sentimental Value”, do norueguês Joachim Trier, recebeu o grande prêmio. “Sirat”, do franco-espanhol Oliver Laxe, empatou com “Sound of Falling”, da alemã Mascha Schilinski, no prêmio do júri.
Melhor roteiro foi para os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, por “Young Mothers’, e um prêmio especial foi entregue ao cineasta chinês Bi Gan, por “Resurrection”.
“É difícil falar”, disse Panahi, emocionado, ao aceitar a Palma de Ouro. “Antes de dizer qualquer coisa, me permitam agradecer à minha família por todo o seu tempo comigo. E a toda a equipe que me acompanhou neste caminho, para fazermos este filme juntos. E agradeço também à toda a equipe que me acompanhou aqui na França”, continuou.
“Não seria possível fazer este filme sem uma equipe comprometida. Eu acredito que é o momento de pedir a todas as pessoas, todos os iranianos, com todas as opiniões, mesmo que divergentes, uma coisa: ponham todas as diferenças de lado, pois o mais importante agora é o nosso país e a liberdade do nosso país. Chegou o momento de, juntos, dizermos que ninguém pode nos dizer o que fazer ou o que falar. O cinema é uma sociedade, ninguém pode nos dizer o que filmar.”
Panahi já foi preso e proibido de filmar pelo governo iraniano. “It Was Just an Accident”, que acompanha o dilema moral de um grupo de ex-presos políticos depois que reencontram seu torturador, foi gravado clandestinamente e mesmo a vinda do cineasta a Cannes não era uma certeza.
Já Kleber Mendonça Filho alternou entre francês, inglês e português ao agradecer pelo prêmio de direção, também emocionado. “Meu país, o Brasil, é um país cheio de beleza e poesia. Eu tenho orgulho de estar aqui nesta noite para aceitar este prêmio. Eu estou muito feliz”, disse ele.
“E queria mandar um abraço para todo mundo vendo no Brasil, especialmente no Recife, em Pernambuco. Queremos que esse filme saia nas salas, porque as salas de cinema formam o caráter de um filme”, continuou, nesta parte em português. Ele ainda agradeceu à mulher e produtora do longa, Emilie Lesclaux.
O júri deste ano foi presidido pela atriz francesa Juliete Binoche. No time estavam ainda a atriz americana Halle Berry, o ator americano Jeremy Stron, a atriz italiana Alba Rohrwacher, o cineasta coreano Hong Sang-soo, a cineasta indiana Payal Kapadia, o cineasta mexicano Carlos Reygadas, a roteirista franco-marroquina Leila Slimani e o cineasta congolês Dieudo Hamadi.
Entre os curtas-metragens, avaliados por um outro júri, “I’m Glad You’re Dead Now” recebeu a Palma de Ouro, numa versão pequenina, como é o caso desta seção, e “Ali”, uma menção especial. A Câmera de Ouro, destinada a diretores estreantes, ficou com “The President’s Cake”. Houve também uma menção especial a “My Father’s Shadow”.
A cerimônia aconteceu sem surpresas após a pane elétrica que deixou o sul da França sem energia nas horas que antecederam a festa. Por volta das 15h30 do horário local, as luzes da cidade voltaram a acender, pouco antes da entrada das primeiras celebridades no tapete vermelho —atrasos, porém, não estavam previstos, já que o Palácio dos Festivais tem gerador próprio.
Segundo o jornal francês Le Monde, a falta de energia teria sido causada por sabotagem. A polícia francesa investiga o ocorrido, depois de cerca de 160 mil domicílios passarem a manhã e o início da tarde de sábado sem energia, na região dos Alpes Marítimos.
Nesta sexta-feira, os vencedores da mostra paralela Um Certo Olhar já haviam sido anunciados. O grande vencedor foi o chileno “La Misteriosa Mirada del Flamenco”. “Un Poeta” ficou com o prêmio do júri e “Once Upon a Time in Gaza”, com melhor direção, para Arab e Tarzan Nasser.
Frank Dillane”, de “Urchin”, foi escolhido melhor ator e Cleo Diára, do português “O Riso e a Faca”, melhor atriz da seção. Já a láurea de melhor roteiro foi para Harry Lighton, por “Pillion”.
Veja a lista dos vencedores:
Palma de Ouro
“It Was Just an Accident”, de Jafar Panahi
Grande Prêmio do Júri
“Sentimental Value”, de Joachim Trier
Prêmio do Júri
“Sirat”, de Oliver Laxe, e “Sound of Falling”, de Mascha Schilinski
Melhor direção
Kleber Mendonça Filho, “O Agente Secreto”
Melhor roteiro
Jean-Pierre e Luc Dardenne, “Young Mothers”
Melhor ator
Wagner Moura, “O Agente Secreto”
Melhor atriz
Nadia Melliti, “The Little Dister”
Prêmio especial
‘Resurrection’, de Bi Gan