O governo de El Salvador prendeu a líder de um grupo de direitos humanos que presta apoio às famílias dos 252 imigrantes venezuelanos presos após serem deportados pelos Estados Unidos. A organização Cristosal denunciou a prisão de sua dirigente nesta segunda-feira (19).
A conhecida ativista e advogada Ruth Eleonora López, 47, foi presa pela polícia na noite de domingo a pedido do Ministério Público. A Procuradoria a acusa de desvio de dinheiro enquanto trabalhava para o tribunal eleitoral há uma década, de acordo com um comunicado da instituição.
“A ordem de detenção administrativa contra Ruth Eleonora López Alfaro foi cumprida” sob a acusação de peculato, informou o Ministério Público na rede X.
López lidera a unidade Anticorrupção e Justiça da Cristosal e critica a política de segurança do presidente Nayib Bukele.
“Até o momento, nem sua família nem sua equipe jurídica conseguiram confirmar seu paradeiro ou o centro de detenção onde ela está detida”, disse a Cristosal em um comunicado, que fala em “desaparição forçada” da ativista.
Sua prisão ocorre em um momento de “profunda preocupação” com “o crescente risco enfrentado pelos defensores dos direitos humanos” em El Salvador e em um contexto de “fragilidade institucional e repressão”, declarou a ONG.
Lá Fora
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A Cristosal auxilia famílias de pessoas detidas sem provas como parte da “guerra contra gangues” lançada por Bukele em 2022 e também as famílias de imigrantes venezuelanos presos há dois meses em uma penitenciária de segurança máxima em El Salvador.
A ONG lançou recentemente um aplicativo para obter informações das famílias desses venezuelanos .
Com base nas respostas dos parentes, a ONG concluiu que 78% emigraram em busca de “melhores oportunidades econômicas”, 35% para escapar da violência e 9% devido à perseguição política.
López foi presa dois dias depois que advogados dos imigrantes venezuelanos denunciaram que seus clientes foram vítimas de torturas “físicas e morais”.
Bukele é um aliado fundamental do presidente dos EUA, Donald Trump, em sua política rígida contra os imigrantes.
Na semana passada, o advogado ambientalista Alejandro Henríquez e o pastor evangélico José Pérez foram presos em El Salvador durante um protesto de famílias de agricultores.
Em fevereiro, o ativista de direitos humanos Fidel Zavala foi detido e acusado pelo Ministério Público de ser membro de uma gangue.
Além disso, a Cristosal relatou em 28 de abril que policiais entraram em sua sede durante uma entrevista coletiva e “começaram a gravar e fotografar as dependências do escritório, assim como os veículos pertencentes aos funcionários e à mídia presente”.
A ONG afirmou então em um comunicado que a entrada da polícia em seus escritórios “faz parte do atual contexto de autoritarismo e fechamento de espaços democráticos em El Salvador”.
Da mesma forma, na semana passada, nove organizações internacionais denunciaram a adoção, pelo governo Bukele, de “uma abordagem autoritária frente ao descontentamento social”.
As organizações, incluindo a Anistia Internacional, também criticaram o projeto de lei de “agentes estrangeiros” de Bukele, que inclui um imposto de 30% sobre as doações recebidas pelas ONGs.