É parecido com o que acontece nas blockchains (que é uma uma DLT) das criptomoedas, mas com uma diferença importante: no Drex, o controle não é descentralizado. Quem comanda é o próprio Banco Central e instituições autorizadas.
Por isso, o Drex não é uma cripto, nem serve como investimento. O nome técnico dele é CBDC, sigla em inglês para moeda digital de banco central. Além do Brasil, outros 134 países trabalham em suas próprias CBDCs, segundo dados da consultoria norte-americana Atlantic Council.
Além de dinheiro, uma plataforma financeira
Além de funcionar como dinheiro digital, o Drex também será uma plataforma de serviços financeiros. Isso significa que permitirá a criação e a oferta de empréstimos com garantia digital, financiamento de veículos, operações de comércio internacional, entre outros.
Hoje, 13 projetos-piloto estão sendo testados por bancos, fintechs e outras empresas dentro do ambiente do Drex, segundo o BC.
Drex vai substituir o dinheiro físico e Pix?
Não, o Drex não substitui o dinheiro em papel nem o Pix. Ele é uma nova camada dentro do sistema financeiro, com foco em operações mais inovadoras, como a tokenização de ativos (transformação de títulos, bens, contratos ou valores em tokens).
Quando o Drex entra em vigor?
A expectativa era que o Drex chegasse no fim de 2024, mas o projeto sofreu atrasos porque ainda precisa solucionar alguns problemas. O Banco Central não trabalha mais com uma data exata. O principal desafio atualmente é garantir que a privacidade das transações seja protegida — algo que as tecnologias DLTs e blockchain, por padrão, não priorizam.
“Para exemplificar as dificuldades encontradas, ressalta-se que a tecnologia de ativos digitais atualmente empregada no piloto do Drex foi criada para aplicação em ambientes onde a proteção da informação do indivíduo não é uma preocupação fundamental, ao contrário das especificações do Drex, que necessita garantir a privacidade das transações dos cidadãos”, disse Fabio Araujo, coordenador do Drex no BC.
Ou seja: enquanto redes como a do bitcoin tornam públicas informações como valores e horários das transações (embora sem identificar nomes), o Drex precisa garantir sigilo para seus usuários.
O projeto já concluiu a primeira fase de testes, que foi de julho de 2023 a outubro de 2024, e agora está na segunda fase, focada em testes de privacidade e integração dos sistemas.
Quais são as vantagens do Drex?
Para os cidadãos, o objetivo do Drex é tornar os serviços financeiros mais ”acessíveis, aprofundando assim a inclusão financeira obtida pela prestação de serviços de pagamentos através do Pix”, afirmou Araujo.
Já para o setor financeiro, de acordo com ele, o projeto permite integrar diferentes ativos no mesmo sistema, o que reduz ”custos de serviços financeiros e de riscos a eles associados”.
Gustavo Joppert, business developer da Polkadot, umas das principais blockchains do mundo, disse que o Drex tem potencial para ser uma revolução silenciosa na forma como os brasileiros interagem com o dinheiro e com os serviços financeiros.
”O dinheiro digital que usamos hoje — via bancos, carteiras digitais ou mesmo o Pix — não é programável e depende de diversos intermediários para realizar operações mais complexas. Com o Drex, o próprio dinheiro pode carregar regras e condições embutidas, permitindo operações automáticas e inteligentes, como pagamentos que se executam apenas quando determinado contrato é cumprido”, disse.
Um exemplo prático disso pode ser a compra de um carro financiado.
Hoje, se uma pessoa quer comprar um carro usado que ainda está financiado, o processo é cheio de etapas. É preciso quitar a dívida existente no banco atual na instituição financeira, fazer a baixa do gravame (o registro de que aquele veículo é uma garantia de dívida, registrar o novo financiamento no banco escolhido, atualizar a propriedade do veículo no Detran e lançar um novo gravame.
O problema? Esse processo envolve diferentes entidades — como Detran, B3 e outras instituições financeiras — e pode levar vários dias. Na prática, para não perder a venda, é comum que o carro seja entregue ao comprador antes de tudo isso estar concluído, o que gera riscos operacionais, financeiros e possibilidade de fraudes.
Com o Drex, esse processo poderá ser programado de ponta a ponta usando contratos inteligentes (programas que executam transações de maneira automática quando determinadas condições são atendidas), segundo Carlos Bonetti, diretor executivo de riscos e operações do Banco BV, que conduz um projeto-piloto sobre transação com automóveis no Drex.
”Uma vez que as instituições financeiras possuam suas redes blockchain, é possível programar com contratos inteligentes alguns eventos, como a liquidação da dívida prévia (via Drex), a baixa do gravame prévio, a atualização da propriedade do veículo, a concessão do novo crédito e a inclusão do novo gravame”, disse Bonetti.
Dessa forma, falou ele, toda a operação que poderia levar dias — e gerar diferentes riscos para as partes envolvidas — aconteceria de forma imediata, segura, menos custosa e com a privacidade necessária.
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