Matt McAllister conhece bem o procedimento. Ele viaja de sua casa em Fairhope, no Alabama (EUA), para participar das reuniões anuais de acionistas da Berkshire Hathaway em Omaha, Nebraska, desde a crise financeira.
Ele faz fila com amigos do lado de fora do colossal centro de convenções por volta das 2h da manhã para garantir um lugar privilegiado e ouvir os conselhos de Warren Buffett de perto.
Mas, neste ano, McAllister chegou na escuridão e encontrou um punhado de outros acionistas que já haviam montado acampamento com sacos de dormir —o mais cedo que ele já tinha visto. “Havia muita preocupação de que pudesse ser a última reunião de Warren”, disse McAllister.
Esses temores foram confirmados horas depois, quando Buffett, de 94 anos, disse à multidão que deixaria o cargo de diretor executivo do vasto conglomerado após seis décadas.
Buffett conquistou milhares de ‘devotos’ por algo além de sua perspicácia em investimentos. Embora raramente se aventure na política, ele passa horas nas reuniões anuais respondendo a perguntas dos acionistas sobre como conduzir suas vidas —financeiramente e de outras formas— e para qual direção ele acredita que a economia global possa estar caminhando.
“Ele é uma grande inspiração para muitas pessoas”, disse Larry Knight, que viajou de Ohio para sua primeira reunião neste ano. “Sabíamos que isso poderia acontecer, e é por isso que viemos este ano.”
As reuniões têm sido uma tradição desde 1965. Naquela época, eram pequenas, com apenas duas ou três pessoas aparecendo em um evento realizado em um antigo sótão acima de uma das fábricas têxteis da Berkshire, na Nova Inglaterra.
As reuniões foram eventualmente transferidas para a cafeteria de uma subsidiária de seguros —com o biógrafo de Buffett escrevendo que, ainda em 1981, apenas 22 pessoas haviam comparecido. Funcionários eram reunidos para que a sala não parecesse vazia.
Agora, elas atraem dezenas de milhares de pessoas de todo o mundo, ansiosas para ouvir os conselhos simples do homem apelidado de “Oráculo de Omaha”, que construiu uma fortuna de US$ 168 bilhões (cerca de R$ 950 bilhões) e uma reputação como um dos maiores investidores da história.
Acionistas que retornam ano após ano construíram amizades e redes aqui, tornando os eventos anuais uma espécie de reunião.
Muitos temiam que este momento estivesse chegando. Buffett o entregou em seu habitual estilo casual, inserindo o anúncio durante os últimos cinco minutos, após responder perguntas por quase quatro horas. Parecia ser uma surpresa até mesmo para Greg Abel, seu sucessor designado, que assumirá o cargo no final do ano.
“Greg não sabe nada sobre isso até o que ele está ouvindo agora”, disse Buffett à multidão.
Foi um final comovente para um evento que se tornou tanto um festival quanto uma reunião de acionistas. Com um evento de compras de vários dias apresentando as empresas do portfólio da Berkshire, um grande piquenique e uma corrida de 5 km, o fim de semana é frequentemente chamado de “Woodstock para Capitalistas”.
A partir de sexta-feira, muitas das empresas do portfólio da Berkshire —incluindo a fabricante de sorvetes Dairy Queen, o grupo de seguros Geico e a vendedora de roupas Fruit of the Loom —montaram estandes, vendendo produtos com desconto para acionistas e seus convidados.
Longas filas serpenteavam pelo centro de convenções na tarde de sexta-feira, enquanto acionistas e diretores executivos das empresas do portfólio compravam braçadas de produtos.
O centro de Omaha estava cheio de devotos da Berkshire de todas as idades e origens. Na noite de sexta-feira, as churrascarias por toda a cidade transbordavam de investidores jubilosos ansiosos para conhecer outros fãs de Buffett.
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Para muitos, a reunião foi emocionante mesmo antes de Buffett anunciar seus planos de aposentadoria. Ruben e Natalie Henriques, que moram em Sydney, Austrália, participaram pela primeira vez do encontro em sua lua de mel, há 15 anos.
O próprio Buffett empacotou guias financeiros no porta-malas de seu carro quando saiu da cidade para celebrar seu primeiro casamento. Este ano, os Henriques trouxeram sua filha Valentina, de 9 anos.
“Nós simplesmente adoramos voltar e fazer parte disso. É uma espécie de peregrinação”, disse Natalie. Eles disseram que ainda estavam em choque com a notícia de que ele logo se afastaria. “Fiquei um pouco emocionada.”
Milhares dos investidores que participam da reunião da Berkshire todos os anos têm Buffett a agradecer por transformar modestas somas de investimento em pequenas fortunas. Cheryl Willis —que estava apenas uma série à frente de Susan Buffett, filha de Warren Buffett, na Omaha Central High School— e seu marido Gary compraram ações da Berkshire pela primeira vez há anos.
“Isso beneficia nosso legado: nossos filhos e netos”, disse Willis. “Um neto estuda na Loyola em Chicago, e isso manteve todos os nossos filhos e netos em carreiras profissionais.”
Mesmo com Abel se preparando para assumir o comando da Berkshire, o casal não tem planos de vender suas ações, seguindo uma das máximas de investimento do próprio Buffett de investir a longo prazo.
“Acho que Abel seguirá os planos de investimento da Berkshire”, disse Gary. “Em um momento, eu temia que as ações caíssem quando Buffett se afastasse. Mas acho que vai se estabilizar e sair mais alto.”
Depois que Buffett saiu do palco, centenas de acionistas permaneceram na arena para a reunião oficial com votação a seguir. Pela primeira vez, Abel comandaria sozinho.
Peg e Nelson Rathert, que haviam voado de Denver, sentaram-se em seus lugares privilegiados no chão para absorver tudo.
“Estou tão feliz que ele esteja fazendo dessa maneira”, disse Peg, de 73 anos, com os olhos brilhando.
“Havia 40 mil mãos aplaudindo em agradecimento.”
Com Eric Platt
