Santiago (RS) tem duas moedas sociais para chamar de comunitárias. A cidade tem 45 mil habitantes, e criou o pila verde em em 2020, com intenção de estimular a troca de “lixo por dinheiro”. A moeda pode ser usada no comércio local, onde a população compra alimentos produzidos pelas famílias rurais. O pila é adquirido por meio da troca de resíduos orgânicos em pontos de troca, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente, onde cada cinco quilos de lixo orgânico valem 1 pila verde, que vale, por sua vez, por R$ 1.
Já o Pila Azul estimula a reciclagem. Você troca um determinado produto reciclável e ganha Pilas Azuis —18 latinhas dá 1 pila azul, por exemplo. O ‘dinheiro’, neste caso, é usado para compra de tempo em estacionamento rotativo, ingressos para o cinema, uso de ginásios de esporte ou inscrições em campeonatos esportivos. Há a versão digital das duas. Andriele Martins Peruffo, secretária de Meio Ambiente, afirma que a criação das duas moedas ajudou a melhorar a circulação de recursos dentro do município e mais. “No caso da Pila Azul, estimulou até a população a fazer exercícios, sem contar o acesso à cultura”, afirma.
Economia é em duas pontas. Segundo a secretária de Meio Ambiente de Santiago, a prefeitura economiza dinheiro. O lixo orgânico, que seria levado para Santa Maria (RS), a 155 km de distância, acaba virando adubo, que é “vendido” para os produtores rurais do município.
Primeiro feirante a receber um pila verde em Santiago, Mauro Batista Romio foi pego de surpresa. Ele tinha ouvido falar do lançamento da moeda, em 2020, quando, um dia, recebeu um pila verde de uma cliente na feira. “Ela queria fazer compras. Me senti na obrigação de não deixá-la ir embora sem os produtos, aceitei. Mas nem sabia quanto valia. Depois, liguei para a secretária de Meio Ambiente [a Andriele, que voltou na atual gestão], e ela me explicou. A partir daí não deixei mais de aceitar”, contou ao UOL.
Principal benefício da pila verde para os feirantes e produtores rurais é poder comprar adubo orgânico. Mas não é só isso. Também é possível comprar mudas de hortaliças, frutíferas e até alevinos (peixes que acabaram de sair dos ovos) com um preço abaixo do valor de mercado, se fosse pago em Reais. A movimentação de pilas foi tão grande que foi possível até pagar máquinas que realizam patrulhas agrícolas na zona rural do município.
Lucimar Buzatta Dalenogare, outra feirante, conta que viu o movimento crescer desde a adoção do pila verde. Ela não conseguiu mensurar em porcentagem, mas disse que ganhou vários clientes fieis que retornam, semana pós semana (a feira acontece às segundas-feiras). “Acredito que o pila foi muito importante para a nossa cidade. Não apenas no ponto de vista econômico, mas pelo lixo que não é despejado no meio ambiente”, afirma.