Anitta é o Zeca
A nova propaganda do Mercado Pago tem assinatura da Gut e o chefe de criação da agência, Bruno Brux, contou que a empresa queria alguma celebridade para marcar o novo posicionamento da marca — “você tem tudo para ganhar” (eu ganho, mas o Mercado é pago?) — e a nova cor da fintech, que vai passar a ser amarela, como o Mercado Livre (você sabe que o Mercado Pago pertence ao Mercado Livre, né?)
Na reunião de briefing, surgiu o nome da Anitta, e ela já não estava mais com o Nubank, e ela tem muito fã, e ela grava tudo numa tomada só, e ela topou fazer. Essas coisas todas.
Brux diz que eles quiseram fazer uma provocação suave sem agressividade (mas vamos combinar que é uma provocação bem provocada, né, Brux?). Fazia tempo que não víamos uma briga assim. Desde os tempos do Zeca Pagodinho com a Schincariol e a Brahma? (Alguém lembra?)
No caso do Zeca Pagodinho, o cantor provou a Nova Schin em um comercial e depois a Ambev pegou o Zeca de volta para ele dizer que até experimentou, mas não trocava a Brahma. Enfim, um rolo que foi parar até na Justiça.
E adivinha quem é cria da Ambev? Sim, ela, a chefona do marketing do Mercado Pago, Pethra Ferraz. Revivendo os bons tempos da guerra da propaganda.
E aí, Ju Roschel? A pergunta que não quer calar é se o Nubank vai aceitar a provocação. Ou melhor, as provocações. E foram muitas. A garota propaganda que já foi deles, a conta corrente que rende mais, o cofrinho da Patroa (o Nubank tem a caixinha), o amarelo para brigar com o roxo (o Mercado Pago tinha antes como cor um azul tímido). E o Mercado Pago está na cola do Nubank. O Nu tem quase 100 milhões de clientes. O Mercado Pago tem 60 milhões.
A Ju Roschel é bold suficiente para entrar em qualquer briga. Mas quem lida com o Nubank diz que o perfil deles é estar acima do bem e do mal.
Aqui, a gente torce pela briga publicitária, sempre. Sabe como é, dá notícia, dá trabalho para as agências, estimula a criatividade e ainda vira estudo de caso.
Povo não quer publi. No X-Twitter, o tuíte spoiler da Anitta dizendo que ela ia anunciar algo que ia render e que não queria mais saber do ex rendeu muitos comentários. Mas o pessoal está cansado de publi, e muita gente só queria saber mesmo se o anúncio teria algo a ver com fazer show em estádio. Taí, o Mercado Livre é dono de um estádio (sim, sabemos, não é dono, dono, tem os naming rights do estádio). Quem sabe.
Anitta só no troca-troca. Talvez você nem lembre, mas a Anitta também já foi garota propaganda do Itaú. Eu diria que a cantora é um belo símbolo dos novos tempos do mercado financeiro e da nova geração, que tem mais banco que dinheiro na conta. (Verdade, a Anitta tem muito dinheiro na conta).
Quem sempre sai ganhando nesta história? A Globo, né? Que só fica lá na primeira fila vendo a Anitta desfilar de laranja, roxo ou amarelo nos intervalos do Jornal Nacional. Manzar agradece.
Como ter a mesma Coca em qualquer lugar?
A Coca é a Coca em qualquer lugar do mundo. Sim, pero no mucho. Explico: o design não era exatamente o mesmo no mundo todo. Imagina fazer com que todos os fornecedores seguissem à risca as mais de 100 páginas do Brand Book da marca. Estamos falando de uma marca que está em 200 países, que vende 2,2 bilhões de Cocas por dia e é atendida por centenas de agências de propaganda. Cada campanha lançada pela Coca gera 5 mil peças diferentes. Pois é.
O Rapha Abreu, VP mundial de design da empresa (sim, mundial, porque sou chique), me contou que não tinha jeito. Sempre alguém, em algum lugar, queria deixar sua digital na marca. Mas em janeiro deste ano isso começou a mudar porque a Coca começou a rodar um programa junto com a Adobe (com inteligência artificial, por supuesto) para uniformizar as campanhas. Eles chamam de Projeto Fizzion.
A pessoa vai lá no programa, pega a peça pronta e pode mudar os dizeres, as fotos (até mesmo mudar o instrumento que alguma pessoa está segurando, para traduzir melhor a cultura local), mas o design nunca muda. Sem contar que o serviço ficou pelo menos 10 vezes mais rápido.
Duas coisas sobre o Rapha. A primeira vez que ele teve contato com o logo da Coca foi na agência Ana Couto (ele até vai dar uma aula agora na escola Laje). A segunda coisa do Rapha é que ele falou comigo no Adobe Summit que aconteceu pela primeira vez no Brasil (prometi mencionar o Summit depois que conheci a Nubia Mota, que é a chefe do marketing para América Latina da big tech. Só quero fofocar aqui que ela anda sendo promovida na Adobe mundial).
E adorei a frase que ele contou que alguém importante na Coca dizia (anos atrás) para dar a dimensão do que é vender Coca-Cola:
“Um bilhão de horas atrás, a vida humana surgiu na Terra. Um bilhão de segundos atrás, os Beatles mudaram a música. Um bilhão de Coca-Colas atrás foi ontem de manhã.” (Hoje eles vendem 2,2 bilhões de Coca-Colas por dia.)
As escolhas de Thalita
O evento da Adobe era basicamente sobre esse tal CRM (a gente fica achando que é só contratar ou descontratar a Anitta, mas tem que gerenciar o cliente e saber tudo sobre ele. E, a propósito, um dos principais concorrentes dessa área é a gigante Salesforce).
Achei curioso eu cair em um evento de CRM, porque dias antes eu tinha batido um papo com a Thalita Martorelli, que é a chefona do marketing da Cielo, e lá pelas tantas (não sei como caímos nisso) perguntei o que ela escolheria se pudesse ter apenas uma coisa na área dela. E adivinha o que ela respondeu? CRM.
Sorte da Thalita é que a Cielo tem dois bancões como sócios, Bradesco e Banco do Brasil, e certamente ela não terá que fazer essa escolha difícil. (Ufa, hein, Almap?)
Mas budget de Cielo não é budget de Bradesco, e Thalita tem que fazer muitas escolhas. E ela escolheu sair do circuito da grande mídia e tem adotado a estratégia de patrocinar eventos regionais, onde a marca acaba se destacando muito mais diretamente com o comércio local. Só para lembrar, a Cielo é uma empresa de tecnologia de pagamentos.
McMelt e o Trump
Pela primeira vez em 31 anos, o McDonald’s finalmente resolveu fazer uma propaganda do Cheddar McMelt. O sanduíche chegou ao Brasil em 1994, época em que só se falava em globalização e da URV. A ideia era globalizar ingredientes, mas eis que aqui no Brasil o cheddar pegou de um jeito que nunca se viu (tanto que só mais outros dois países têm o sanduíche).
Apesar de nunca ter tido uma campanha só para ele, o McMelt é o terceiro sanduíche mais vendido da rede, segundo o Rodrigo Marangoni, diretor de criação da Galeria. A ideia era ter feito a propaganda e ativações no fim do ano passado, para comemorar os 30 anos, mas no fim o Mc precisava vender mais Big Mac (que dá muito mais retorno) e a campanha do McMelt ficou para este ano.
Por uma dessas ironias do destino, o Cheddar McMelt chegou aqui no momento da globalização e agora faz sua primeira propaganda no momento em que o Trump quer acabar com a globalização. Just saying.
Falando em Trump, estou de olho nos últimos balanços da temporada e na semana que vem falo deles. Voltem aqui.
Reportagem
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