Foi conversando com duas das fundadoras que eu entendi porque entre as agências a OOO era tão desconhecida. Nenhum dos fundadores já trabalhou em agências de publicidade. Beatriz Borges e Thales Ferreira eram buscadores de tendências da Melissa e Catharina Dieterich fundou o portal do Steal the Look (vendido para Magazine Luiza há uns 4 anos). Os outros dois novos sócios, que entraram no ano passado, tampouco eram de agências (a jornalista Maria Prata e o produtor de vídeo Rob Dalazen).
Mas a agência já tem vários clientes no portfólio: Dove, Seda, Shiseido, Hering e tantas outras.
Roubou o look. A história da Out Of Office começou com as marcas querendo co-criar com o site Steal the Look, que ditava (ou dita, sei lá) as tendências da moda. Catharina conta que foi então que eles decidiram que estava na hora de criar uma empresa de publicidade. No começo, lá no meio da pandemia quando criaram a OOO, eles não queriam dizer que a agência era agência porque eles querem ser diferentes (eles querem criar e antecipar tendências). Mas a Bia conta que não conseguiram achar outra designação melhor e deixaram agência mesmo.
Hoje eles são 70 pessoas, sendo que 85% são mulheres.
E qual a tendência na campanha da Bethânia? A verdade, meu amor. E a verdade é que Bethânia não quer domar os cabelos. E eu também não, pelo visto, já que estou descabelada na foto aqui da coluna (olha eu querendo me aproximar da Bethânia).
Outros cases. No Natal do ano passado, a OOO fez uma campanha para Hering em que Bruna Marquezine foi cozinhar chocotone com o chef Cedric Grolet, em Paris. Não, a Hering não vende panetone ou chocotone e nem vai vender. Mas claro que a Bruna usou uma camisa Hering durante o vídeo (que teve mais de 1 milhão de curtidas no Instagram).
E onde fica a agência? Na casa de cada um, claro. Out Of Office, afinal. E algumas casas ficam na gringa. Catharina mora em Nova York. Thales, em Londres.
E não quero dizer nada, mas elas querem roubar clientes por aí, viu?
Vai e vém do dindim
Enquanto a OOO está por aí querendo roubar corações, outras agências estão mesmo é na disputa acirrada para subir no ranking do dinheiro do Cenp. Esse ranking é feito com base no valor de mídia que as agências negociaram para seus clientes (de propagandas que foram veiculadas).
Mediabrands segue liderando, seguido da BETC Havas. Surpresa para a Galeria no top 3 e a queda da Artplan para sétimo lugar. África também surpreendeu e subiu três posições, ficando no top 5. A WMcCann segue em quarto lugar.
No ranking dos dados da Monitor, os nomes mudam um pouco de lugar. (A Monitor registra as verbas publicitárias negociadas em mídia, sem descontos). Quem encabeça o ranking é a agência We, seguida da Publicis. Mediabrands e BETC entram na sequência, em terceiro e quarto lugares, respectivamente. Galeria e África nem entram no Top 10 da Monitor. Já a Artplan fica em sexto. A Pullse, que é do mesmo grupo, está em décimo. No ranking do Cenp, a Pullse não é listada porque não repassa os dados.
Cenp maroto
Achei marota a estratégia do Cenp para dar a impressão que a internet não passou a TV aberta. Até junho do ano passado, a TV aberta era uma categoria separada da TV fechada. Justamente quando a verba para internet ultrapassou a TV aberta, a nova categoria agora é só televisão.
Vamos aos números. A TV aberta foi o destino de R$ 9,6 bilhões das verbas publicitárias em 2024 e a TV fechada recebeu R$ 1,5 bilhão. Juntas, na categoria televisão, somam R$ 11,1 bilhões. A internet levou R$ 10,4 bilhões da verba que é monitorada pelo Cenp.
Parênteses. Vale dizer que o dinheiro de anunciantes monitorado pelo Cenp não reflete a totalidade do que foi gasto em publicidade no país. Ao todo, 339 agências enviam informações.
Em tempo. Cenp é o Fórum de Autorregulação do Mercado Publicitário.
Galloway provoca a Nike
O Scott Galloway está defendendo a ideia de que alguma grande marca americana antagonize com Donald Trump – Ele acha que quem fizer isso primeiro vai bombar de tanto vender. Galloway aposta as fichas na Nike, que teria muito menos a perder e muito mais a ganhar.
Eis os argumentos de Scott ao defender que a Nike seja a primeira a erguer a bandeira: as tarifas ameaçam prejudicar os esforços da empresa para revitalizar sua marca e vender mais, a Nike deixou de ser popular, seu valor de mercado caiu 60% desde o pico de 2021 e foi a empresa que teve a coragem de botar o jogador negro que se recusou a ficar de pé no hino nacional em protesto como seu garoto propaganda. (Irritou a extrema direita, mas a Nike vendeu 30% mais.)
Outras marcas que poderiam assumir esse protagonismo anti-Trump, segundo Galloway, seriam Apple, P&G e Walmart. Será que alguma delas teria essa coragem toda? Uma coisa assim a la Harvard? Já peguei a cadeira e a pipoca.
Enquanto isso
Contei aqui há duas semanas que o tema Trump foi o assunto preferido dos analistas que acompanharam as teleconferências de resultados da Omnicom (Almap, Africa, etc) e Publicis (Leo, Talent, etc). No fim da semana passada, foi a vez da IPG (WMcCann, MediaBrands, etc) e WPP (Ogilvy, VML, etc). De novo, Trump foi assunto.
A WPP diz que está tranquila porque, diferentemente das concorrentes, 60% dos seus negócios estão fora dos Estados Unidos. (Gosto que o Mark Read, o CEO do grupo que falou isso na teleconferência é o mesmo que levou o Elon Musk no ano passado para fazer relacionamento em Cannes.)
A IPG diz que tem cliente que vai ter desafio e outros terão oportunidades.
Enfim, as previsões já estão na rua. A área de análise do Citi prevê uma queda de 6% das verbas publicitárias, nos Estados Unidos, em função da guerra tarifária.
A SXSW vai mudar?
Já mudou. A começar pelo fato de que a próxima edição nem poderá mais acontecer no Convention Center (que será derrubado para a construção de um novo espaço). Mas, além disso, agora o evento está sob nova direção.
A nova dona do pedaço é Jenny Connelly, executiva de tecnologia e produtos digitais do grupo de comunicação Penske. Ela chega para substituir Hugh Forrest, que estava tocando o rolê há uns 30 anos. (Ele fez questão de deixar claro para a imprensa que foi demitido.)
Mas quem são Jenny e Penske? O grupo Penske é dono de umas 20 publicações do mundo do entretenimento, música, moda e cultura como Variety, Rolling Stone, Billboard, The Hollywood Reporter e por aí vai. Na pandemia, a empresa comprou o controle da SXSW.
A Jenny era VP do grupo e comandava as plataformas tecnológicas e roadmap de produtos de marcas dessas revistas todas. Do seu perfil, destacaria que ela é uma defensora ativa da diversidade.
Na última edição da SXSW, que aconteceu em março, ela mandou um BRAVO para os cartazes da marca E.L.F Beauty colados nas pilastras do centro de convenções de Austin.
Os cartazes brincavam com o termo dick, que é uma referência ao órgão genital masculino, mas também pode significar babaca.
“It’s ok to be a dick. But America’s boardrooms need more of everyone else” (Não tem problema ser um babaca – ou um homem -, mas as salas de reuniões precisam de mais de todo mundo.)
Como diz Jenny, não sei se tudo bem ser um dick. Beijo, me liga. E volta aqui semana que vem.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.