Na coluna de hoje eu vou explicar por que essa estratégia pode fazer você perder dinheiro e explico o que você deve fazer em situações como essa.
Primeiro: nunca há certeza sobre a Selic
Em primeiro lugar, é preciso estar ciente de que nunca existe certeza sobre o que vai ocorrer com a taxa Selic.
Portanto, se você concentrar seus investimentos somente em ativos que se beneficiam da queda dos juros, poderá sofrer uma perda significativa caso as expectativas não se confirmem.
Nada errado com isso, desde que você esteja ciente do risco. O erro, de verdade, é outro, que eu explico mais abaixo.
Quais investimentos se beneficiam?
Alguns ativos têm uma relação inversa com a taxa Selic. Ou seja, tendem a subir quando ela cai, e vice-versa. Os principais ativos com essas características são:
- Títulos prefixados (como o Tesouro Prefixado, CDBs prefixados etc)
- Títulos indexados à inflação (como o Tesouro IPCA, CDBs IPCA etc)
- Fundos de investimento imobiliário (FIIs)
- Ações
Já os pós-fixados sobem e descem junto com a Selic. São exemplos de pós-fixados o Tesouro Selic e os CDBs com rentabilidade atrelada ao CDI.
Onde está o erro
O enorme erro que muitos cometem está em acreditar que as mudanças na taxa Selic vão influenciar o preço da maioria dos ativos. Não vão.
Os únicos investimentos que sobem ou descem logo depois e a Selic subir ou cair são os títulos pós-fixados.
Para todos os outros ativos, a variação da Selic em si não importa tanto. O que realmente importa são as expectativas do mercado em relação à Selic.
Isso acontece porque os grandes gestores de investimento tentam se antecipar ao mercado. Antes de a Selic começar a cair, eles já compram os ativos que podem se beneficiar. Consequentemente, o preço desses ativos sobe.
Assim, o investidor pessoa física, que não passa o dia inteiro estudando investimentos, tende a chegar atrasado nesse jogo.
Tesouro Direto já subiu
Em tese, como expliquei acima, quando os juros sobem, o preço dos títulos prefixados cai. Mas vamos ver o que acontece na prática?
No começo de 2025, a taxa Selic estava em 12,25% ao ano. Hoje está em 14,75%. Portanto, subiu 2,5 pontos percentuais.
No mesmo período, o preço do Tesouro Prefixado, um título do Tesouro Direto, em vez de cair, aumentou 2,9%. Isso aconteceu porque as expectativas sobre a Selic pararam de subir e até começaram a cair.
Ações e fundos imobiliários também subiram
As ações e os fundos de investimento imobiliário (FIIs) também já se valorizaram significativamente desde o início do ano.
O Ifix, índice que representa os FIIs mais negociados do país, subiu nada menos do que 9,7% desde o início do ano. O Ibovespa, que representa o mercado de ações, saltou 15,8% no mesmo período.
Esses dois tipos de ativos devem ser analisados porque não têm uma relação tão direta com a taxa de juros (ou melhor, com as expectativas sobre as taxas) quanto os títulos de renda fixa, como o Tesouro Prefixado.
Mesmo assim, pode-se tranquilamente considerar que as expectativas de queda nos juros contribuíram para essa alta.
Ainda mais quando observamos que as empresas do varejo, que são muito sensíveis à taxa Selic, tiveram um forte ganho na Bolsa. Lojas Renner, Magazine Luiza e Casas Bahia subiram 45,2%, 50,1% e 75%, respectivamente, desde o início do ano.
Como se beneficiar da queda na Selic?
Se você quer que os seus investimentos se beneficiem da variação da Selic, precisa olhar mais para as expectativas do que para as taxas em si.
Uma boa forma é acompanhar o boletim Focus, uma pesquisa que o Banco Central realiza toda semana com mais de cem analistas de mercado, incluindo aqueles que representam as maiores instituições financeiras do país.
Hoje, o Focus mostra que os analistas preveem que a Selic termine o ano no mesmo patamar que o atual, 14,75%. Se você acha que ela terminará o ano abaixo desse valor, deve comprar títulos prefixados. Se acredita que estará acima, deve vender tais papéis.
Mas saiba que, assim, você estará competindo com pessoas altamente treinadas para fazer esse tipo de especulação.
É por isso que eu não recomendo aos meus clientes pessoas físicas tentarem se antecipar a decisões de juros. O ideal é investir não de acordo com o que você acha que vai acontecer com o mercado, mas, sim, de acordo com os seus objetivos de vida e as suas necessidades financeiras.
Alguma dúvida?
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Reportagem
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