Enquanto o mundo se ocupa de guerras, mudança climática e eleição do novo papa, o que dividiu as redes sociais foi um espetáculo deprimente: uma briga de adolescentes influenciadoras (isso deveria ser proibido), que expôs toda a imaturidade para lidar publicamente com ciúme, possessividade, insegurança, disputa.
Foi uma tempestade digital. Troca de acusações, entre curtidas e comentários. Mas não é só um drama adolescente, é a confirmação de que a rivalidade feminina ainda é um veneno da nossa cultura, na qual uma mulher precisa derrubar outra para ganhar atenção e likes. A competição é moeda social e a aprovação masculina vale mais do que autonomia, o que explica as queixas públicas de que uma teria dado em cima do namorado da outra. Como diz o meme: “Is this real life?”.
Enquanto nós, feministas, falamos em liberdade e solidariedade, essas meninas estão ocupadas competindo por aprovação, curtidas, validação. O apelo do engajamento, do status digital, da imagem perfeita, grita mais alto. Testemunhamos o naufrágio de uma geração emocionalmente drenada por uma disputa que deveria estar em extinção. Nesse terreno, o feminismo fica soterrado pelo barulho sedutor das métricas e do consumo de imagem. Entre autonomia e engajamento, a escolha já foi feita.
Mas vamos ao ponto: quem abriu a porta para essa ciranda? Quem entrega o celular, administra contratos, negocia publis e aplaude cada seguidor novo? São os pais. Antes de culpar algoritmo, TikTok ou Instagram, convém olhar para o adulto que monetiza a vida do filho, que transforma infância em negócio e terceiriza responsabilidades emocionais para meninas que mal saíram da infância, mas já sabem o valor comercial de sua imagem.
A discussão sobre regulamentação digital é urgente, mas ela começa dentro de casa. Porque, no final, não é o algoritmo que assina contrato: é o adulto que explora. E nenhum filtro consegue disfarçar isso, por mais que a legenda diga que está tudo bem.
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