Chamado pelo conterrâneo Rubem Braga de “mineiro do litoral”, Wilson Figueiredo nasceu em Castelo, no sul do Espírito Santo, em 29 de julho de 1924, mas mudou-se para Minas Gerais ainda criança. Só chegou a Belo Horizonte em 1943. Antes, morou em Raul Soares, Divinópolis, Montes Claros e Uberaba, no interior do estado.
Na capital, preparou-se para o vestibular de medicina. Desistiu. Começou o curso de letras neolatinas. Não se formou. Autor de poemas, chegou a mostrar alguns para Mário de Andrade, que lhe escreveu: “Acabo de reler seus versos. Você já é poeta, mas só não será poeta como constância de sua vida, se não quiser. (…) Você tem uma poesia dentro de si e tem o que dizer”.
Estimulado, chegou a publicar dois livros: “Mecânica do Azul” (com capa de Burle Marx e prefácio de Alceu Amoroso Lima) saiu em 1946; “Poemas Narrativos” surgiu dois anos depois. Arrependido, mandou recolher todos os exemplares e nunca mais divulgou sua poesia.
Ainda se meteu em literatura. Fez parte da chamada geração Edifício, integrada também por amigos como Autran Dourado, Francisco Iglésias, Octávio Mello Alvarenga e Sábato Magaldi. Juntos, editaram os quatro números da revista do mesmo nome, que circularam no primeiro semestre de 1946. O caminho de Wilson, porém, era mesmo o jornalismo.
Por indicação do piauiense Carlos Castelo Branco, o Castelinho, foi redator e tradutor na Agência Meridional, do jornal Estado de Minas e secretário da Folha de Minas. A paixão pela imprensa logo o levou a fazer o caminho típico dos jovens de sua idade. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde primeiro passou pelo Última Hora e por O Jornal. Mas foi no Jornal do Brasil que fez a maior parte de sua carreira.
Com Odylo Costa, filho, Jânio de Freitas e Amílcar de Castro, testemunhou a histórica reforma gráfica e editorial do JB, de 1959, e passou por todos os postos da Redação. Em 45 anos de empresa, foi repórter, editor, colunista, cronista, editorialista e diretor. Entre 2015 e 2018, reuniu alguns de seus textos em três livros: “1964: O Último Ato”, “De Lula a Lula – A Arte de Montar Governos com Palavras Cruzadas” e “Os Mineiros – Modernistas, Sucessores & Avulsos”.
Morto por causas naturais no seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, na noite de 20 de abril, deixou quatro filhos, oito netos e uma legião de admiradores. Na imprensa e fora dela.
É do Figueiró (como o chamava Hélio Pellegrino) uma das melhores frases sobre a mocidade: “Éramos excedentes em vontade de viver, ávidos de futuro. Faltava-nos o passado, que nos sobra hoje”.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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